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Publicado na Folha de São Paulo – Por: Nina Valentini, cofundadora do Movimento Arredondar

O brasileiro está doando cada vez mais. Somente em 2024 foram R$ 24,3 bilhões, o maior volume já registrado pela Pesquisa Doação Brasil (IDIS), desde sua primeira edição, em 2015. De cada 100 brasileiros, 78 doaram algum valor no ano passado. Esmolas, dízimos ou dinheiro emprestado não entram nessa conta. 

Num Brasil cada vez mais conectado, onde compramos com um clique, pagamos com um toque, organizamos a vida em aplicativos, abre-se espaço para algo ainda mais eficiente: a doação digital.

Hoje, doar também cabe nesse universo ágil, cotidiano e conectado. A tecnologia transformou o jeito de nos relacionarmos com o dinheiro, e com isso surgem oportunidades para transformar o ato de doar em algo simples, acessível e cheio de significado. Se o consumo acontece em segundos, por que a solidariedade não pode acontecer no mesmo ritmo?

Nos últimos anos, o crescimento do e-commerce e dos pagamentos digitais no Brasil foi impressionante. Segundo a Fecomercio-SP, o comércio eletrônico nacional cresceu quase 300% entre 2016 e 2023. Ao mesmo tempo, o Pix e as carteiras digitais mudaram completamente nossa forma de comprar, vender e transferir dinheiro. A combinação desses fatores criou um novo terreno fértil para a filantropia: o das microdoações integradas ao consumo digital.

Quando alguém arredonda o valor de uma compra, adiciona R$ 1 a um pedido online ou escolhe doar parte do que gasta a uma causa, está mostrando que a generosidade e a empatia podem ser parte da vida cotidiana. São pequenos gestos que, somados, geram grandes impactos.

Essa mudança conversa com uma tendência mais ampla: a busca por propósito. Novas gerações, especialmente Millennials e Gen Z, não compram apenas produtos, elas compram valores. Querem se relacionar com marcas que fazem sentido, que geram impacto, que estão alinhadas com o mundo que desejam construir. É por isso que vemos o crescimento de negócios que unem consumo e propósito, transformando cada transação em uma possibilidade de fazer o bem.

Mas a revolução digital da filantropia não está só no gesto de doar. Está também na forma como a tecnologia aumenta a confiança. Plataformas que mostram o destino das doações e relatórios de impacto em tempo real permitem acompanhar o caminho do dinheiro e entender o resultado concreto de cada contribuição. Quando o doador vê o impacto, ele se engaja de verdade.

Outro movimento interessante é o da gamificação, quando a doação se torna uma experiência. Lives solidárias, desafios em redes sociais, transmissões que arrecadam recursos e até campanhas em jogos mostram que a filantropia pode ser interativa, divertida e compartilhável. Doar passa a fazer parte da cultura digital, e não apenas de um momento pontual.

A inteligência artificial também chega com força nesse campo. Ela pode ajudar a conectar pessoas a causas que realmente estejam alinhados com seus valores, criando experiências mais personalizadas. É o uso da tecnologia para aproximar, e não apenas para automatizar.

E há ainda os caminhos mais inovadores, como os NFTs e a Web3, que abrem possibilidades para causas ganharem visibilidade e pertencimento em novas comunidades digitais. Mesmo que pareçam temas técnicos, representam o quanto o digital está expandindo o significado de doar.

Diante de tudo isso, o Dia de Doar, celebrado no dia 02 de dezembro, ganha um novo sentido. Ele deixa de ser apenas uma data no calendário e passa a ser um lembrete de que o ato de doar pode — e deve — acompanhar o tempo em que vivemos. Marcas, consumidores e organizações têm a chance de repensar suas relações e construir uma cultura de generosidade que se estenda muito além de um dia específico.

No fundo, o futuro da filantropia não é só digital, é humano. É sobre aproximar tecnologia e empatia, conveniência e propósito. É sobre entender que cada pequeno gesto, cada centavo, cada clique pode carregar uma intenção transformadora.

O consumo nos conecta, mas é a empatia que nos mantém humanos. E quando esses dois mundos se encontram, o resultado é transformador.

Leia mais: Solidariedade como hábito: uma reflexão para o novo ano

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